Onde Estão Os Versos?




A cena é clássica:
Os dedos dançam sobre as teclas da máquina de escrever, as hastes golpeiam a fita que lança a tinta ao papel. O som no ambiente é como a batida de uma bateria, que marca o compasso da música. Mas eis que de repente a canção se interrompe. O papel é arrancado num gesto brusco, embolado, amassado, atirado ao chão... une-se a outros tantos. O poeta suspira, leva as mãos à cabeça, acende um cigarro, toma um gole do café amargo que sequer notara frio. Vai até a janela, lança o olhar perdido ao mundo lá fora. Onde estão os versos?
Penúria – maldito momento na vida dos amantes das palavras que agora serpenteiam fugidias. Momento cruel, momento vão! Nem as flores no jardim, nem a menininha brincando no balanço, nem as andorinhas enfeitando o céu azul, nem o beijo da menina dos olhos, nem a complexidade apaixonante dos homens, nem o cheiro da terra molhada... nenhuma das sutilezas que inspiram o poeta, servem-lhe de prumo. As palavras simplesmente não acontecem. E este não acontecer golpeia a alma, machuca, dilacera, corrói. Mas não mata.
E eis que o poeta decide fazer da própria inércia criativa sua musa inspiradora. Tamanha necessidade de palavras, tamanha obsessão de arte, tamanha necessidade de criação...
Onde estão os versos?




Versos, versos, versos, versos!
Que não são meus, que daqui não saem.
Hora passam, hora fogem, hora nada, ora bolas!
Não são de ninguém, pois que não vêm...

Palavras que se encontram tal qual gotículas de água formam nuvens:
Versos, versos, versos, versos!
O poeta é o vento...





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