Oh Céus!







Sentir me faz falta.
Preciso confessar minha carência. Carência daqueles sentimentos que tornam um cara como eu, um ser mais vivo. Carência daqueles sentimentos que me inspiram e embriagam minha alma. Carência de fogo, de paixão, de alarde, de erros!
Quero um sorriso bobo estampado no meu rosto, quero o coração descompassado por um beijo, quero o passo em falso – momento divino em que a gente se entrega de corpo e alma ao universo maravilhosamente desconhecido do próximo minuto.
Quero me apaixonar perdidamente e, perdido, não conseguir voltar.
Quero provocar risadas, arrepios, mordidas, devaneios,  xingamentos de bobo, de chato, de feio, de meu...
Quero dormir abraçado e acordar ao lado da moça que eu quis.
Quero aquelas promessas de amor que só os olhos sabem pronunciar e os corações sabem cumprir. Quero querer pra sempre, mesmo sabendo que é longe demais.
Oh céus!
Como eu quero suprir essa carência que sinto de mim mesmo...



Onde Estão Os Versos?




A cena é clássica:
Os dedos dançam sobre as teclas da máquina de escrever, as hastes golpeiam a fita que lança a tinta ao papel. O som no ambiente é como a batida de uma bateria, que marca o compasso da música. Mas eis que de repente a canção se interrompe. O papel é arrancado num gesto brusco, embolado, amassado, atirado ao chão... une-se a outros tantos. O poeta suspira, leva as mãos à cabeça, acende um cigarro, toma um gole do café amargo que sequer notara frio. Vai até a janela, lança o olhar perdido ao mundo lá fora. Onde estão os versos?
Penúria – maldito momento na vida dos amantes das palavras que agora serpenteiam fugidias. Momento cruel, momento vão! Nem as flores no jardim, nem a menininha brincando no balanço, nem as andorinhas enfeitando o céu azul, nem o beijo da menina dos olhos, nem a complexidade apaixonante dos homens, nem o cheiro da terra molhada... nenhuma das sutilezas que inspiram o poeta, servem-lhe de prumo. As palavras simplesmente não acontecem. E este não acontecer golpeia a alma, machuca, dilacera, corrói. Mas não mata.
E eis que o poeta decide fazer da própria inércia criativa sua musa inspiradora. Tamanha necessidade de palavras, tamanha obsessão de arte, tamanha necessidade de criação...
Onde estão os versos?




Versos, versos, versos, versos!
Que não são meus, que daqui não saem.
Hora passam, hora fogem, hora nada, ora bolas!
Não são de ninguém, pois que não vêm...

Palavras que se encontram tal qual gotículas de água formam nuvens:
Versos, versos, versos, versos!
O poeta é o vento...





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